quarta-feira, 3 de março de 2010

Aldebaran, Minha Estrela

O que sei dizer é que sem você não sou muito ou quase nada.

Porque me parece agora estranhamente que todas as coisas contidas neste universo, somente estão onde estão para que você possa existir. Para que neste momento você possa estar reluzindo em algum canto deste planeta e a sua aura aqui me enchendo de saudade. A tua imagem surgindo em minha mente é como um oásis no deserto escaldante que é esta vida. É como uma ilha paradisíaca onde o vento sopra as palmeiras e mexe a areia de um mar azul de depois da inquietude e desespero.

E eu o que poderia ser para você? Quiçá um sol, destes centenas de vezes maior e mais brilhante que o nosso. Uma estrela imensa daquelas de nome majestoso.

Uma Aldebaran.

Mas assim longe de você, sou no máximo, potencial de estrela. Massa inerte, esperando um click, um acender deste forno e ativar a reação nuclear que deflagrara a explosão e gerará a verdadeira vida: brilho intenso de uma estrela gigante. Uma linda estrela de vida imponderavelmente longa e mais quente que o Sol. Sinto que poderíamos ser um imenso sistema binário. Duas estrelas gêmeas infinitamente no tempo circundando uma a outra, inundando o universo à nossa volta de luz e partilhando nossa matéria.

Não sei precisar o instante em que você nasceu neste meu universo. Mas como toda a estrela você surgiu de uma imensa nuvem de gás, minha Nebulosa de Órion. Teu espírito, uma pequena e preciosa porção de matéria que existia no começo foi aos poucos atraindo massa por causa de tua gravidade e assim você tomou corpo e foi crescendo dentro de mim até ocupar um espaço imenso e me fez sentir assim tomado por completo de maneira que, preenchido pela tua essência me senti como o poeta na “fatalidade insigne do nosso encontro... de um só golpe, perdido e salvo”.

E assim eu matéria escura que sou sem você me vi atraído mais e mais para a tua órbita e passei a girar em torno numa elipse constante como um cometa. E como um bólido simples que sou, tenho apenas a beleza do brilho que o reflexo da tua luz provoca em minha cauda que se alonga quando a minha poeira é atraída e dispersada pela tua força gravitacional. Mas quando me afasto volto a ser matéria escura novamente e sigo perambulando por essa existência cósmica na ânsia e ilusão de nossa próxima aproximação.

Aldebaran minha estrela, você é visível da Terra.

Hoje, que é inverno lá fora e aqui dentro, posso te ver no escuro do início da noite, brilhando forte e azul, numa linha reta à esquerda das Três Marias.

E fica combinado assim minha lucina, mesmo que não queiras, que me tens a mim e à estrela que dou. Um gesto simbólico eu bem sei, posto que não posso dar aquilo que não me pertence. Mas sempre que eu olhar o céu e mirar Aldebaran verei a ti e lembrarei mesmo com tristeza, que estás a anos-luz de distância embora eu possa te ver para sempre, mesmo na mais negra escuridão das noites.

Agnaldo Garcia

Conto publicado no livro "Amor & Desamor" - Br Letras

http://www.camarabrasileira.com/amoredesamor.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário