Se a vida é uma montanha-russa passar dos quarenta já é estar além do ponto mais alto sem possibilidade alguma de retorno. É certo então que teremos altos e baixos, mas definitivamente na média, é ladeira abaixo. Os cabelos recuam a cada dia e a testa aumenta. A memória nos deixa na mão muitas vezes naqueles momentos onde você encontra um conhecido na rua ou está concentrado numa daquelas provas importantes. O fôlego falta na metade do primeiro tempo daquela pelada. Ainda penso muito em coisas que pensava quando era mais jovem e tenho quase as mesmas vontades que tinha aos vinte e poucos anos. Mas é claro que nestes casos pensar e fazer são quase sempre ações verbais não correlacionáveis.
Há quarenta e um anos, enquanto o homem engatinhava fora da terra pisando na lua eu chegava a este mundo. Os Beatles tiravam a sua famosa foto de capa de disco atravessando uma rua de Londres e o Brasil era apenas bi-campeão mundial de futebol. A sociedade moderna adolescente queria mudar o mundo e os jovens brasileiros morriam em nome da democracia.
Mas “aqueles garotos que queriam mudar o mundo, agora assistem a tudo em cima do muro”, não é mesmo? Quando não estão ocupados escondendo dólares na cueca...
Amadurecemos... O mundo mudou... Só não sei se para melhor.
Aos quarenta e um anos já sabemos que verdadeiras amizades são demasiadamente raras e que quase sempre usamos este conceito levianamente. Sabemos que se era amor verdadeiro e superamos então nunca deveria ter sido assim chamado. Que as pessoas que mais nos são queridas ou as que mais nos querem bem, geralmente são aquelas que mais nos magoam, na maioria das vezes, mesmo que sem querer e que “... não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte...”
Aos quarenta e um anos nem tudo, entretanto, é motivo de lamentação ou nostalgia. Ganhar a vida já não é uma batalha tão árdua, os filhos já estão ganhando asas... E vê-los ali, diante de você, seres humanos íntegros pessoas de bem sabendo que você contribuiu e muito para a formação do caráter deles, te enche de orgulho. Dos filhos também tenho esperança de coisas boas que estão por vir. Quem sabe netinhos, todos dignamente corintianos, zoando pela casa numa tarde de domingo?... Sim, apesar de tudo creio que a vida ainda pode reservar bons momentos.
Não é desprezar possibilidades ou exacerbar em excesso de otimismo. Sei que ocorrerão momentos tristes e, perdas de pessoas queridas serão inevitáveis. Nós nos reuniremos para chorá-las e a vida seguirá seu curso até o final: o derradeiro movimento na montanha.
Agnaldo Garcia
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