sexta-feira, 28 de maio de 2010

Você Aprende...

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança ou proximidade. E começa aprender que beijos não são contratos, tampouco promessas de amor eterno. Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos radiantes, com a graça de um adulto – e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, pois o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, ao passo que o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol pode queimar se ficarmos expostos a ele durante muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe: algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferí-lo de vez em quando e, por isto, você precisa estar sempre disposto a perdoá-la.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva certo tempo para construir confiança e apenas alguns segundos para destruí-la; e que você, em um instante, pode fazer coisas das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e que, de fato, os bons e verdadeiros amigos foram a nossa própria família que nos permitiu conhecer. Aprende que não temos que mudar de amigos: se compreendermos que os amigos mudam (assim como você) e perceberá que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou até coisa alguma, tendo, assim mesmo, bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito cedo, ou muito depressa. Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que verdadeiramente amamos com palavras brandas, amorosas, pois cada instante que passa carrega a possibilidade de ser a última vez que as veremos; aprende que as circunstâncias e os ambientes possuem influência sobre nós, mas somente nós somos responsáveis por nós mesmos; começa a compreender que não se deve comparar-se com os outros, mas com o melhor que se pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se deseja tornar, e que o tempo é curto. Aprende que não importa até o ponto aonde já chegamos, mas para onde estamos, de fato, indo – mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar servirá.

Aprende que: ou você controla seus atos e temperamento, ou acabará escravo de si mesmo, pois eles acabarão por controlá-lo; e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa o quão delicada ou frágil seja uma situação, sempre existem dois lados a serem considerados, ou analisados.

Aprende que heróis são pessoas que foram suficientemente corajosas para fazer o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências de seus atos. Aprende que paciência requer muita persistência e prática. Descobre que, algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, poderá ser uma das poucas que o ajudará a levantar-se. (…) Aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido: simplesmente o mundo não irá parar para que você possa consertá-lo. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar atrás. Portanto, plante você mesmo seu jardim e decore sua alma – ao invés de esperar eternamente que alguém lhe traga flores. E você aprende que, realmente, tudo pode suportar; que realmente é forte e que pode ir muito mais longe – mesmo após ter pensado não ser capaz. E que realmente a vida tem seu valor, e, você, o seu próprio e inquestionável valor perante a vida.

Willian Shakespeare

domingo, 23 de maio de 2010

Desejo a Você

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar

Victor Hugo

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Epifanias

Você se apóia no que acredita. Fecha os olhos segue em frente esperançoso de que se pode alcançar boa ventura à frente. Conta com a falta de memória para esquecer que não é eterno e num vapt-vupt a vida lhe será ceifada já que ela nunca foi sua e pode ter sido emprestada por uma entidade celestial que se você for veramente sincero consigo, por mais crente que seja, um dia duvidará que exista. Vai se esforçar para estar bem sempre, jovem. Mas o espelho, cedo ou mais tarde vai lhe mostrar um rosto envelhecido que você reconhecerá como o seu.

Sabe que a vida ainda lhe dará boas e más notícias e que se você quiser que algo não aconteça é só desejar do fundo do coração, mas com um pouco de sorte e capacidade de se colocar no lugar do próximo, esquecendo um pouco do próprio umbigo, talvez você se veja cercado de algumas pessoas que realmente apreciam o seu modo de ser e aos quais você poderá chamar de amigos, inclusive alguns seus familiares. Mas seja razoável e leve em consideração o fato de que mesmo as pessoas mais consanguineamente chegadas a você podem te decepcionar ou magoar e vice-versa, de tal maneira que nem mesmo depois de muito tempo seja possível superar.

Aceite que algumas pessoas, de uma maneira inexplicável, conseguem atingir objetivos com muita facilidade enquanto para você tudo parece incrivelmente difícil e as vezes você vai ter que se esforçar tanto que quando chegar ao topo da montanha que estiver escalando, vai estar tão cansado que nem conseguirá apreciar o espetáculo maravilhoso de um por de sol acima das nuvens.

Não ignore a possibilidade grande que existe de não viver nunca um grande amor, embora ele sempre esteja à venda na loja de conveniência mais próxima. E se isso de fato acontecer, tenha certeza: provavelmente, a maioria das pessoas ao seu lado são vítimas do mesmo destino, porque a vida é assim. Lembre-se que o tempo é remédio e o distanciamento da fonte, por mais que aumente a dor no início, é um lenitivo necessário em longo prazo.

Preocupe-se menos, porque como a sua própria experiência mostra, já que você ainda está a salvo lendo estas linhas, a maioria das enrascadas em que a vida ou nós mesmos quase sempre nos colocamos podem ser solucionadas com um pouco de esforço e auto-persuasão e às vezes, o diabo realmente não é tão feio como nos fazemos ou nos querem fazer acreditar. Procure sempre deixar as portas abertas pelos lugares e com as pessoas que conhecer porque realmente, com exceção de Nostradamus e mais meia dúzia de profetas, não podemos prever o dia de amanhã.

Não odeie tanto ninguém nem leve nada tão a sério porque afinal quando olhamos os fatos através dos óculos do tempo os problemas e atritos parecem muito menores, principalmente se considerarmos o quão ínfima é esta nossa existência. Não ria feito idiota o tempo todo de tudo, mas procure manter sempre o bom humor porque afinal, se não resolver para nada prático ou imediato, lembre-se: sorrir faz bem para a saúde, e portanto prolonga a vida.

Procure não desprezar nunca a possibilidade de se reunir com pessoas as quais você estima, porque é muito triste e definitivo lamentar não tê-lo feito no dia em que estiver diante desta pessoa num destes velórios da vida. Seja otimista, prepare-se sempre para o pior, mas espere o melhor. Assim, se você estiver preparado, nada vai parecer tão difícil de superar porque você não será pego de surpresa.

Ame e respeite a sua família acima de tudo, até acima do Corinthians, porque se você for um bom marido, ótimo pai, irmão amigo e filho extremoso, eles te honrarão e cuidarão de você até o fim de seus dias.

E por fim deixo para você a filosofia de vida que eu aprendi de um tio meu. Ele perdeu os seus filhos jovens de maneira abrupta cada um de modo diferente e seu corpo agora é assolado por muitas enfermidades. E quando alguém lhe coloca num assunto algo desagradável ou situações terríveis que escapam a nossa capacidade de resolução, ele simplesmente balança os ombros e replica numa voz cortada de quem já sofreu vários derrames cerebrais:

“Fazer o quê?”...

Agnaldo Garcia

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Náufrago

Josué levantou-se do tronco próximo a fogueira que havia feito para encarar a escuridão da noite estrelada e sem lua. Algumas nuvens bem esparsas, coloridas de amarelo-vermelho-roxo davam um aspecto muito bonito ao pôr-do-sol daquele dia. Caminhou até o limite onde as ondas quebravam na praia como que para admirar mais de perto o sol fritando a água no horizonte. A água fria do mar quase tocava os seus pés e o vento, que vinha da praia para o oceano, soprava em suas costas e fazia o seu camisolão branco de mangas longas agitar como uma bandeira tremulando. Sentiu um arrepio de frio e instintivamente se reaproximou do calor da fogueira que crepitava com o estalar da madeira e emitia pequenas fagulhas que impulsionadas pelo vento iam se suicidar nas minúsculas gotículas de água do mar. No céu algumas estrelas já mostravam um brilho tímido, como se pedissem passagem ao sol que já se retirava. Suspirou de saudade de coisas que não se lembrava, mais tinha certeza: estavam presas em algum arranha-gato de sua mente.

Tentava buscar na memória quando e como viera parar ali, mas o fato era que não conseguia lembrar-se de nada que deveria ter ocorrido neste passado recente, que explicasse o fato de ele ter acordado naquela linda ilha deserta, deitado de barriga para baixo, trajando aquela mesma roupa que estava usando agora, e com o rosto ao chão encostado em uma das faces que tocava a areia. Levantou-se confuso e desorientado ante a paisagem que se apresentava. Teria sido deixado ali por alguma embarcação? Por que motivo? Talvez tivesse nadado até a praia ou se agarrado a alguma parte de um navio que afundou ou um avião que poderia ter feito um pouso forçado na água. “Não... Não com esta roupa”, pensou. Ponderou também que se tivesse havido um naufrágio deveria haver algum resquício do acidente na praia, mas nunca conseguiu achar um indício de que isso tivesse ocorrido. O fato é que, simplesmente, não se recordava de nada até antes do momento em que acordou embaixo daquelas palmeiras na praia, já com o sol no meio do céu.

Também não conseguia precisar quantos dias estivera ali, náufrago naquela ilha. Mas não sentia angústia ou tristeza, apenas saudade dos entes queridos que deixara em alguma direção daquela imensidão de mar. Os pés pisavam tranquilos os finos grãos de areia da praia e o sol brilhava calma e suavemente. O calor era amainado por uma brisa mansa que soprava do mar pela manhã. O branco alvíssimo da areia que fazia contraste com o mar de um azul que ele não vislumbrara nem em comerciais de televisão trazia uma paz e calma que ele não conseguia descrever ou explicar. Numa incursão pelo meio da ilha ele descobriu uma pequena queda d’água que formara uma piscina natural de água fresca onde ele podia se banhar e matar a sede. Enfim, achava-se se aprisionado num lugar paradisíaco onde passava os dias matutando sobre a sua vida e o tempo parecia fluir peculiarmente descompassado.

Assim, absorto em seus pensamentos, Josué nem percebeu quanto se sentou no tronco próximo a fogueira e já mirava o infinito acima, porque o sol já se havia posto no horizonte, deixando apenas um borrão de luz que ia atenuando e dando lugar a total escuridão da noite. Deitou-se para poder admirar melhor aquele céu, que a esta altura ia se borrando de milhares e milhares de estrelas, formando um espetáculo inimaginável para quem sempre viveu na poluição das cidades. Seu corpo foi tomado de um torpor que quase não o permitia sentir as extremidades das mãos e dos pés. Decidiu que iria dormir ali mesmo próximo a fogueira e deitado, jogou sobre si uma manta de lã que estava dobrada e aquecida próxima da fogueira. Diante daquele espetáculo, em meio aos meteoros que riscavam o céu arremetendo contra a terra, sentiu-se só. Suas lembranças voltaram-se então para a sua família. O que estariam fazendo neste momento sua mulher e filhos? Estariam à sua procura? Será que pensavam nele naquele momento? Lembrou-se da mãe velhinha e do seu pai e sobrinho que haviam falecido já há algum tempo. Sentiu saudades e os olhos marejaram.

Abstraído assim em pensamentos, ignorava completamente os sons que a natureza fazia à sua volta até que, de sobressalto, percebeu um estalo que ressoava próximo a ele ao lado esquerdo depois da fogueira, onde se encontravam algumas folhas mortas de palmeira. Girou rapidamente a cabeça para onde tinha ouvido o estalo e quando sua visão foi se acostumando com o ofuscamento causado pela fogueira percebeu, com espanto, um vulto que parecia caminhar lentamente em sua direção. Num impulso saltou rapidamente e postou-se ereto, de frente para o vulto. Agora percebia claramente tratar-se de uma pessoa, trajando calça e camisa branca como a areia da praia. Notou também que andava descalça. Quando os olhos se adaptaram de vez ao contraste da luz da fogueira com a escuridão, pode ver o rosto de um rapaz. Reconheceu de pronto Rafael, o sobrinho querido que havia falecido num acidente a poucos anos atrás. Estranhamente não sentiu medo, caminhou ao seu encontro para lhe dar um abraço. Sentiu vertigem e tonto caiu na areia, de frente para o mar, aos pés do rapaz que olhava agora fixamente para ele e pronunciou numa voz familiar, que já não ouvia há algum tempo, quase sorrindo:

___Tio, você precisa voltar, ainda não chegou a sua hora.

Ainda tentava entender o significado daquelas palavras, quando atônito olhou para o mar a sua frente. A paisagem ia gradativamente se modificando. O azul do céu transformou-se numa parede de tijolos e o branco da areia em um desalinhado lençol branco de hospital. O rosto à sua frente sorridente já não era mais o do sobrinho falecido, agora fitava sua filha Rebeca que com espanto alertou o resto da família no quarto que o pai acabara de retornar do coma.

Compreendeu naquele instante que havia acabado de viver uma experiência de quase morte.

"Para meu querido tio Sidiko Garcia, poeta e compositor, que sofreu um acidente de automóvel anos atrás e viveu experiência semelhante"

Agnaldo Garcia